Um pouco também eu morta
Entre jasmins e rosas, chorava
Era uma noite inquieta,
no meio da manhã de sol
Era, sem tempo de me redimir
era eu em meus diálogos
compridos com as pedras,
com os tocos de pau,
com as folhagens ao vento
Era eu sem tempo
No silêncio da sua ausência no quintal
Dentro de mim
tons de uma saudade estranha
Tudo fora de ordem
Menos o tempo
Quatro anos longe de mim
Antes tive raiva
eu me afogava nesse deserto de lágrimas
respondia áspera para a lua,
sem sequer olhar, e ia saindo.
Fugia de casa o dia inteiro
no meu mais íntimo sofrimento
redobrava-me no pranto
pra me consolar com a paciência
Imagens desfilavam na minha memória
não suspeitava da dor
que ainda sentiria minh’a alma
Meu Deus, em Ti depositava esse pranto.
Só pedia para que o tempo voltasse,
Implorava por um único milagre
Pensava na cor que teriam minhas asas no céu
como se eu continuasse presente
Quis muito, quis tanto
que minha alma se fosse...
Coisas assim tão sem sentido
eu sentia no fundo
mas depois de tanto silêncio e um longo barulho
entendi que em todo o meu caminho
Só soube sorrir para você
E depois de tudo, tardiamente
... tudo podia ser diferente!
O nosso quintal se alargava,
o caminho de plantas, paus e pedras
tocavam as nuvens
num sem um fim que se avistasse.
Eu tinha a sabedoria e ela me guiava
O sorriso seu, Maria,
finalmente, me preenchia
me tornava leve, e então voávamos.
Eu tentei alcançar sua vida
Mas não podia pedir que parasse
Tinhas um vôo firme
E a mim me parece que eu só voava
enquanto seu lado estiva
sozinha eu era vácuo que planava
Mas eu a queria, Maria...
busquei-a para um abraço que faltava em mim,
um toque que me transmitisse os seus modos de sorrir.
Eu conversei com as nuvens
e para pedras lá embaixo pedi o caminho de volta
As folhas acenavam
Tu te ias distanciando
eu me surpreendi no cansaço do meu vôo,
quando as nuvens perderam sua leveza.
Pedi por sua mão
Para que me levasses com você
Mas o seu sorriso já me abandonava
Transfigurando seus tons em cor de nuvem
Aos poucos me vi sem olhos para tê-la.
E era tarde, muito tarde
e tudo que agora eu via
eram as telhas do meu quarto
a solidão que me completava
e os contornos deste vazio
que até hoje carrego
Numa rapidez que doí
as manhãs ascendem velas
num desencanto mudo,
reluzindo meu vazio.
Os meus olhos continuaram buscando...
Completamente afastada de todossonho que um dia hei de beijar
de novo, o seu rosto
Quantas estrelas no céu
ainda hoje eu contemplo tua estrela
vejo tua imagem se projetando lá em cima
e tenho uma vontade enorme de que sejas minha
Agora que sei
qual era a luz que você me oferecia...
E mesmo que antes
o tempo me deixe de cabelos brancos
com minha esperança prosseguirei
Com uma alegria que não sei de onde vem
Toco as pedras, as folhagens
e converso quieta com o vento
Minha memória guarda
os sinais do teu semblante
E num sorriso longe
até hoje parada naquela curva sem nome
sei que não me deixastes desamparada.
E não serei por muito tempo
apenas solidão acompanhada
que também te acompanha.
à desconhecida.
Giorgia Prates - fev. 2008.