quarta-feira, 13 de maio de 2009

O sorriso da Estrela

Um pouco também eu morta
Entre jasmins e rosas, chorava 
Era uma noite inquieta, 
no meio da manhã de sol 

Era, sem tempo de me redimir 
era eu em meus diálogos 
compridos com as pedras, 
com os tocos de pau, 
com as folhagens ao vento 

Era eu sem tempo 
No silêncio da sua ausência no quintal 

Dentro de mim 
tons de uma saudade estranha 
Tudo fora de ordem 
Menos o tempo 

Quatro anos longe de mim 

Antes tive raiva 
eu me afogava nesse deserto de lágrimas 
respondia áspera para a lua, 
sem sequer olhar, e ia saindo. 
Fugia de casa o dia inteiro 
no meu mais íntimo sofrimento 
redobrava-me no pranto 
pra me consolar com a paciência 

Imagens desfilavam na minha memória 
não suspeitava da dor 
que ainda sentiria minh’a alma 

Meu Deus, em Ti depositava esse pranto. 
Só pedia para que o tempo voltasse, 
Implorava por um único milagre 

Pensava na cor que teriam minhas asas no céu 
como se eu continuasse presente
Quis muito, quis tanto 
que minha alma se fosse... 

Coisas assim tão sem sentido 
eu sentia no fundo 
mas depois de tanto silêncio e um longo barulho 

entendi que em todo o meu caminho 
Só soube sorrir para você 

E depois de tudo, tardiamente 
... tudo podia ser diferente! 
O nosso quintal se alargava, 
o caminho de plantas, paus e pedras 
tocavam as nuvens 
num sem um fim que se avistasse. 

Eu tinha a sabedoria e ela me guiava 
O sorriso seu, Maria, 
finalmente, me preenchia 
me tornava leve, e então voávamos. 

Eu tentei alcançar sua vida 
Mas não podia pedir que parasse 
Tinhas um vôo firme 

E a mim me parece que eu só voava 
enquanto seu lado estiva 
sozinha eu era vácuo que planava 

Mas eu a queria, 
busquei-a para um abraço que faltava em mim, 
um toque que me transmitisse os seus modos de sorrir. 

Eu conversei com as nuvens 
e para pedras lá embaixo pedi o caminho de volta 

As folhas acenavam 
Tu te ias distanciando 
eu me surpreendi no cansaço do meu vôo, 
quando as nuvens perderam sua leveza. 

Pedi por sua mão 
Para que me levasses com você 
Mas o seu sorriso já me abandonava 
Transfigurando seus tons em cor de nuvem 

Aos poucos me vi sem olhos para tê-la. 
E era tarde, muito tarde 
e tudo que agora eu via 
eram as telhas do meu quarto 
a solidão que me completava 
e os contornos deste vazio 
que até hoje carrego 

Numa rapidez que doí 
as manhãs ascendem velas 

num desencanto mudo, 
reluzindo meu vazio. 

Os meus olhos continuaram buscando... 
Completamente afastada de todossonho que um dia hei de beijar 
de novo, o seu rosto 


Quantas estrelas no céu 
ainda hoje eu contemplo tua estrela 
vejo tua imagem se projetando lá em cima 
e tenho uma vontade enorme de que sejas minha 

Agora que sei 
qual era a luz que você me oferecia... 

E mesmo que antes 
o tempo me deixe de cabelos brancos 
com minha esperança prosseguirei 

Com uma alegria que não sei de onde vem 
Toco as pedras, as folhagens 
e converso quieta com o vento 

Minha memória guarda 
os sinais do teu semblante 
E num sorriso longe 
até hoje parada naquela curva sem nome 
sei que não me deixastes desamparada. 

E não serei por muito tempo 
apenas solidão acompanhada 
que também te acompanha. 


à desconhecida.
Giorgia Prates - fev. 2008.

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